Nós podemos aprender com muitos sem abrigo, que por falta de opção ou até mesmo pela própria, vivem na rua esvaziando-se deles mesmos. Num acto de abandono a renúncia fica nomeada aos solitários, que pedem o alimento com o olhar, numa simbiose quase perfeita na caricatura de uma vida livre, assumida na dependência de uma bondade alheia. Mas eles podem contemplar o sol se estiverem libertos dos vícios do homem desesperado. Eles podem sorrir com inocência se não socumbirem à fraqueza do corpo, eles podem beber a água com gosto e gratidão profunda, eles podem comer usufruindo do presente, sem viajar com o pensamento num acto desvalorizador do momento. Como a mente inferior tem os seus extremos, que possamos formar a ponte que equilibra os 2 lados; a trindade é o vencer alegre sobre as circunstâncias caóticas, num comportamento sábio que só os loucos entendem. Pois os semelhantes reconhecem a conduta que vence o mundo. Eles partilham pensamentos solidários porque são humildes, avançam com ações amorosas, desprendidos do retorno. Eles são os altruístas, os benfeitores que fizeram evoluir a sua consciência por meio de uma inteligência que comunica no Grande- Espírito. Eles abriram as portas para que o alto habitasse neles; então o simbolismo do sem-abrigo pode ser aplicado a quem admirar a humildade e a manifeste em sim. Mas esta relação alquímica não faz o homem passar fome. Torna-o um pedinte grato que renova o seu ser nas águas da contemplação da vida e dos seus mistérios. 

 

 

                                                                      Inês Ariel